quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A SUICIDA


Ela acorda as 7 da manhã de uma primavera fria. Sente um calafrio por dentro, mas não é o vento que entra pela fresta de sua janela, é mais uma vez aquela sensação de abandono, típica dos amores não correspondidos. Procura um cigarro mas ai se lembra, ela não fuma, mas ainda assim queria um cigarro, fica bonito nos filmes a mocinha chorando e um cigarro na mão, e talvez possa dar algum alívio ou nem que seja pra passar minutos tossindo com a fumaça. 
Mas ela desiste da idéia, até porque não tem cigarro mesmo, e como já disse, ela não fuma. Beber as 7 da manhã também não parece uma boa, ao menos que ela fosse alcoólatra, ou alguma desequilibrada, mas ela não é. Não é?
Mas ai me pergunto, porque então ela não procura algo mais forte, mais potente. Mas ela não é muito corajosa, e o mais longe que ela consegue pensar é em ir até o mercadinho de esquina e comprar uns chocolates, nessas horas faz bem.
Bom, ela não vai ficar bêbada, mas vai ficar gorda. Ah que horror, apaixonada, abandonada, e gorda. Desiste dos doces.
Que merda de vida é essa? ela se pergunta. Não faz mais sentido continuar com isso. Ela então liga o computador e pesquisa"técnicas de suicídio". Vamos lá:
-  Cortar os pulsos: não, essa ja é muito batida, isso quem faz é adolescente em crise que quer chamar atenção, e afinal de contas ela ja não é uma adolescente.
- Tomar remédios: hum, melhor não, vai que  é alérgica a algum medicamento.
- Se jogar de um prédio alto: também está fora de cogitação, ela morre de medo de altura.
Ah, mas antes de decidir como iria morrer, resolveu se arrumar, até porque com aquela cara abatida não iria ficar bonita no caixão, ia estar morta, mas feia jamais.
Então vai até o espelho de sua cômoda, pega suas maquiagens e começa a transformação. Passa uma base pra esconder as olheiras e as marquinhas de expressão. Um blush pra ficar corada, ela sabe que morto costuma ser pálido. Rímel, lápis de olho. Hum, pensando bem lápis é melhor não, vai que ela chora enquanto morre e o lápis pode borrar. Mas o batom é claro que não poderia faltar. Vermelho parece vulgar pra ocasião, mas nude é o ideal, ta na moda e combina com seu tom de pele.
Arrumou os cabelos, colocou algumas bijouterias e um vestido claro que ela comprou em suas viagens para a Europa, porque achava que certamente iria para o céu, e ela nunca viu anjo de roupa escura.
Se viu no espelho e concluiu, agora sim, tudo pronto. Ela olhou, olhou... E pensou: bom agora que eu to assim, toda arrumada, não convém morrer, então vou sair dar uma volta, pra aproveitar um pouco da produção.  Então ela adiou por algumas horas o plano de se matar.
Decidiu ir aos lugares que ela mais gosta, foi até o centro da cidade, observou as pessoas, percebeu algumas olhadas ao redor. Opa, então a produção fez sucesso, estavam reparando nela, ouviu alguns assovios, uns caras a chamavam de gostosa, até que fez bem pra alto estima. Resolveu assistir um filme, é o que ela mais gosta de fazer quando precisa se distrair.
Comprou ingresso para a próxima sessão e lá ficou esperando o filme começar. Estava tocando aquelas musiquinhas de fundo, que saco, isso é um tédio. 
E o filme começou. Resumindo, era a história de uma mocinha que foi morar no estrangeiro em busca de algumas oportunidades na vida, e depois de ser abandonada pelo namorado, ficou depressiva e morreu . Quando o filme acabou ela chorava de soluçar, e pensou: ainda bem que não passei o lápis no olho. Ela não entendia o porque na sinopse estava escrito comédia romântica se esse era um completo drama.  Lembrou na mocinha do filme, morrer de tristeza coitada, ela esperava um fim mais glamouroso. 
Então ela continuou caminhando, quando voltou pra casa já estava tarde, e ela tava cansada de tanto andar, dormiu.
E o suicídio?

Melhor deixar pra amanhã.

Por Monica Oliveira

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

De mãos dadas


Ele veio rápido. ligeiro, voraz, veloz.
Chegou sem muito perguntar, sem tempo de avisar, nem mesmo questionar.
Se eu tinha medo, se foi.
Meus receios viraram anseios
Dissemos ser Deus, o destino, orações, corações.
Tão novo e já tão certo, tão junto e tão perto.
É preto no branco, que se fundem, confundem, misturam, completam.
Tomou conta do corpo, da mente e da alma.
Acelerou, mas trouxe calma.
Tirou do prumo, mas trouxe um rumo
Se entregou pra mim, e eu disse sim.
Olhou nos olhos, me deu seus beijos, segredos, seus planos, seus braços e seus abraços.
Segurou minha mão e entregamos o coração...

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Senta, que lá vai a história ou O amor nos dias de hoje


Porque vai tão cedo? Porque sempre fica tão pouco? Senta, toma um café, ou prefere um vinho? Bate mais dois minutos de prosa. A conversa tava tão boa, o disco ta na vitrola... Tenho tanto pra contar, dizer, mostrar. 
Senta, fica mais um pouco, espera pelo menos o bolo sair do forno, me fala da sua vida, me deixa saber da sua história... Fica mais um pouco.
Eu quero dançar no escuro, sussuro... Eu quero entender mais de tudo, eu quero saber mais de você, contar mais de mim, saber da vida, do amor....
Senta, fica mais um pouco???

terça-feira, 16 de junho de 2015

DESILUSÃO

Escutei uma citação essa semana de Henri Nouwen, um teólogo e escritor holandês, que me fez refletir. Era sobre desilusão, e o quanto se desiludir é positivo.  Desilusão significa deixar de estar iludido, e que é o ideal se não queremos viver enganados.
A ilusão é o que não existe, é uma criação de nossas expectativas e vontades e nada tem a ver com a realidade, a ilusão é engano dos sentidos, utopia, anseio, é farsa, é enxergar o mundo, o outro, apenas como você gostaria que eles fossem, e depois dessa expectativa gerada através da ilusão, quando você em algum momento se "desilude" você sofre. Mas o que gerou o sofrimento foi a ilusão e não a desilusão.
Muitas vezes são nossas percepções de falsas realidades que nos causam maiores sofrimentos.
Nós idealizamos o emprego dos sonhos, o príncipe encantado, a família ideal, e diante de tantas idealizações não nos damos conta que nem nós correspondemos as nossas próprias expectativas.
Nos últimos tempos, meses, ou anos,  o que mais venho sofrendo são desilusões, muitas e em todas as áreas da minha vida, e sinto uma enorme gratidão por isso, pois talvez agora eu esteja conseguindo fazer o que deve ser feito, e ser a pessoa que devo ser.
Aquela carreira dos sonhos já não parece tão incrível assim, mas depois de ver a realidade arregacei a manga e fui atrás de um outro possível plano. Príncipes, já sabia que não existiam, mas as desilusões me fizeram ter mais cautela, e porquê não dizer tolerância com o outro, e esperar apenas o que for dado de coração.
Mas a maior desilusão foi comigo mesma, vi coisas que não gostei, enfrentei medos, fraquezas, e tive que me aceitar, respeitar, e conhecer.
Vivi muitas ilusões, e talvez ainda alimente muitas delas, mas se hoje posso fazer um pedido é que vivamos sempre desiludidos.



quinta-feira, 16 de abril de 2015

O passado que não passou

O Futuro que não chegou


Aqui estou


Só 

E como faz se o outrora já não traz? 

Se o projeto é um projétil?

Se o mar seca, o sol dorme, a flor morre...

Como faz se o controle descontrola? 

Se onde vai se esvai, se a fé falha, a mente mente, 

a dor balança, a gente dança, a vida cansa...