Eu como
cineasta e mais que isso, cinéfila, tive que ir conferir algumas das sessões. Por
lá passaram filmes de todos os gostos e de várias categorias: curtas, documentários,
comédia pastelão, drama alternativo, etc. Mas vou confessar que o que mais me tocou foi o filme "Uma longa viagem" de Lucia Murat.
Esse documentário
mereceu toda minha atenção, horas de reflexão e agora esse post. Eu realmente
fiquei impressionada com tamanha qualidade e delicadeza ao tratar de assuntos
tão fortes e nostálgicos.
O filme conta
a história de 3 irmãos, a própria Lucia e seus outros 2 irmãos, que vivem em meio
a repressão nos anos 60 / 70. O ponto de
partida é a morte recente de um deles, Miguel, que desperta em Lucia o
questionamento, o que fazemos diante da morte, além de chorar? e através disso
ela vai em busca de suas memórias e dessa época de tanta confusão na vida dos 3,
mas que não apenas por laços consanguíneos, mas por uma afinidade e união
estava tão conectados e próximos, mesmo na distância.
Além da morte de Miguel e
de seu papel de equilíbrio entre eles, ela conta suas experiências como presa
politica, em que achava que não sairia de la viva. Mas acho que o que mais
chama atenção é Heitor, o irmão mais novo, que diante de todas aquelas confusões
políticas da época foi mandado pra Londres pra nao correr o risco de ser preso
como a irmã. E lá ele se envolve com todo tipo de droga e passa sua vida assim,
experimentando as mais diversas sensações entre viagens pelo mundo e viagens
pelas drogas. Até que anos depois ao voltar para o Brasil tem que passar por
internações e tratamentos.
Heitor em
seus depoimentos ainda aparenta uma mente meio transtornada, um olhar distante,
talvez por ter vivido tão intensamente e cambaleando entre a sanidade e a loucura, mas também é de um senso de humor e sensibilidade que se tornam muito mais marcantes. O filme todo
e baseado em suas cartas para a familia no período que estava longe, que nos
arrancam muitas lágrimas, mas também muitas gargalhadas, Enfim, Lucia, Heitor e
Caio Blat (que interpreta brilhantemente Heitor em sua juventude),
contam suas histórias, revivem um período difícil, e remexem em um passado, que
na verdade não passou, suas marcas são visíveis até hoje, e vão ser pra sempre.
Construção inteligente que foge da
linearidade, fotografia belíssima, roteiro de uma delicadeza tocante.
E no final,
a platéia emocionada aplaudiu, como não podia deixar de ser.