terça-feira, 25 de setembro de 2012

Uma longa viagem





Ta rolando um festival de cinema brasileiro aqui em Londres (que acaba hoje).
Eu como cineasta e mais que isso, cinéfila, tive que ir conferir algumas das sessões. Por lá passaram filmes de todos os gostos e de várias categorias: curtas, documentários, comédia pastelão, drama alternativo, etc.  Mas vou confessar que o que mais me tocou foi o filme "Uma longa viagem" de Lucia Murat.
Esse documentário mereceu toda minha atenção, horas de reflexão e agora esse post. Eu realmente fiquei impressionada com tamanha qualidade e delicadeza ao tratar de assuntos tão fortes e nostálgicos.

O filme conta a história de 3 irmãos, a própria Lucia e seus outros 2 irmãos, que vivem em meio a repressão nos anos 60 / 70.  O ponto de partida é a morte recente de um deles, Miguel, que desperta em Lucia o questionamento, o que fazemos diante da morte, além de chorar? e através disso ela vai em busca de suas memórias e dessa época de tanta confusão na vida dos 3, mas que não apenas por laços consanguíneos, mas por uma afinidade e união estava tão conectados e próximos, mesmo na distância. 
Além da morte de Miguel e de seu papel de equilíbrio entre eles, ela conta suas experiências como presa politica, em que achava que não sairia de la viva. Mas acho que o que mais chama atenção é Heitor, o irmão mais novo, que diante de todas aquelas confusões políticas da época foi mandado pra Londres pra nao correr o risco de ser preso como a irmã. E lá ele se envolve com todo tipo de droga e passa sua vida assim, experimentando as mais diversas sensações entre viagens pelo mundo e viagens pelas drogas. Até que anos depois ao voltar para o Brasil tem que passar por internações e tratamentos.
Heitor em seus depoimentos ainda aparenta uma mente meio transtornada, um olhar distante, talvez por ter vivido tão intensamente e cambaleando entre a sanidade e a loucura, mas também é de um senso de humor e sensibilidade que  se tornam muito mais marcantes. O filme todo e baseado em suas cartas para a familia no período que estava longe, que nos arrancam muitas lágrimas, mas também muitas gargalhadas, Enfim, Lucia, Heitor e Caio Blat (que interpreta brilhantemente Heitor em sua juventude), contam suas histórias, revivem um período difícil, e remexem em um passado, que na verdade não passou, suas marcas são visíveis até hoje, e vão ser pra sempre.
 Construção inteligente que foge da linearidade, fotografia belíssima, roteiro de uma delicadeza tocante.
E no final, a platéia emocionada aplaudiu, como não podia deixar de ser.

Um comentário:

  1. Valeu pela dica! Já estava triste porque não consegui ver o documentário do Raul no sábado... agora sei que perdi mais ainda. Vou esperar aparecer na net pra poder ver.
    Bjos, querida!

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